segunda-feira, 21 de junho de 2010

Marcas desfalecidas.


- Apenas deixe-me ver meu filho! - Exclamou o pai, em completo desespero. Na manhã daquele mesmo dia, seu filho de apenas 8 anos havia sido encaminhado ao hospital, com total urgência. Os médicos não tinham ideia do que havia de errado com o pequeno, que se sentia muito mal há algumas semanas.

Primeiramente, pensaram que o púbere havia tido uma overdose por algum medicamente prescrito. Depois, pensaram em uma auto-imune. E em lassos e desesperançosos minutos, caíram em inquestionável dúvida. A progenitora do pequeno acompanhou-o por todos os processos médico-hospitalares. E, àquela altura, só restava aos membros desta infeliz família rezar pela alma da criança. Os médicos tinham acabado de anunciar que ela estavam em estado terminal, devido a um câncer maligno de pulmão.

Os ventos sopravam furiosos contra a persiana. Gotículas de chuva debatiam contra as janelas fechadas. Uma aura de morte rodeava aquele leito. E, na véspera do falecimento da criança, houve um último pedido por parte da mesma: Um papel, e uma caneta. Os médicos se assustaram: Por que uma criança desta idade pediria um pedaço de papel e uma caneta?

Algumas horas se passaram, e o inevitável aconteceu. As máquinas de monitoramento suspiraram em um ruído interminável, monofônico e peculiar. Lágrimas escorriam pelo rosto da mãe, inconsolada. Sobre o criado-mudo jazia o papel, dobrado e com destinatário. A mãe, estendendo às mãos sem interromper seu pranto abespinhado, desdobrou carinhosamente o embrulho e leu o conteúdo.

"Sei que minha missão aqui foi cumprida. E neste pequeno pedaço de papel, escrevo meus últimos sentimentos. Um temor sem igual tomou conta de mim, meus braços e pernas estavam trêmulos e eu não conseguia sequer respirar, mesmo com a ajuda dos aparelhos. Podia ouvir cada pequena partícula de água batendo contra o vidro, como se quisesse me ajudar neste momento tão difícil. Pela minha cabeça, passaram-se filmes dos momentos mais memoráveis da minha vida: sejam eles com meus amigos, ou com a minha sacratíssima família. Mas, ao fim, vi que apenas as coisas boas deixaram marcas em meu peito. As ruins me fizeram sofrer na vida, mas à véspera da morte, vos afirmo: Apenas as coisas boas permanecem. E se, como últimas palavras, estou a escrever isto, peço a ti, minha mãe querida, um último desejo: Não derrame mais lágrimas daqui em diante, quando pensares em mim. Quero que ria, como se eu estivesse contando uma típica piada, ou que se anime. Tenha certeza: Se eu morri feliz com os momentos bons que tive, foi porque você me concedeu todos eles. E à ti eu devo a vida que agora estou entregando nas mãos do pai celeste. Lembre-se, eu te amo muito, e nunca quereria presenciar teu pranto. Estarei contigo até o fim da tua vida, onde nos juntaremos e viveremos em harmonia novamente. Eu te amo, mãe, nunca se esqueça disso."

O choro foi trocado por um sorriso. E quando a mãe, em última atitude antes de se despedir, olhou para o seu pequeno, percebeu que dos lábios dele se apoderava um simples e inocente sorriso.

Um comentário: