segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ventos de Outono.

Esvaídas folhas se dispersam em um chão gélido; sem vida. Beleza e morte nunca se misturariam de forma tão majestosa, se não pela obra divina desta estação. O outono é a prova viva de que todo ciclo tem de ser renovado. E digo-lhes, por entrelinhas, que também façais isto com a tua vida, em todos os possíveis aspectos, pois chegará uma hora onde nem mesmo as velhas folhas que te acobertaram no frio, protegeram-te do Sol e sofreram por você irão resistir contra a força da renovação. Terão de ser trocadas.

Será que há folhas que não se renovam? Isto é capaz de existir? Com complacência afirmo que são muito poucas as pessoas que de certa forma merecem um lugar cativo em meus pequenos e atrofiados galhos. Poderia contar-lhes nos dedos. Mas sei que não será necessário, pois se escrevo sobre vocês, com certeza vocês mesmos sabem.

O outono é a estação mais linda do ano. De fervente calor estamos abstidos, e também das frias noites. A vida se dá de forma assustadora; infame; perfeita. E como este ciclo, que se renova, eu queria me desvencilhar das pútridas flores que assolam a minha estrutura. O outono não cede seu etéreo tempo para que chuvas incessantes e oportunas dominem o cenário celeste, mas também priva os lindos cristais de gelo de existirem. É uma época onde não há preocupações, pois é repleta de festas e de alegrias. É nesta estação que - com o perdão da prosopopéia, obviamente - as árvores dançam em um leve minueto que se propaga nos agradáveis ventos. E mesmo as folhas que - mortas e desfiguradas - pousam sobre o leito pavimentado onde jazem por alguns minutos acompanham esta linda sinfonia, que soa de forma pacata e pura, aos ouvidos. Os rios, mansos, repousam. As nuvens, confusas, regridem.

Sinto saudades dos tempos em que me reunia com a minha família, em um parque qualquer de uma cidade qualquer, e todos nós comíamos às margens de um dos vários rios que por ali trilhavam o caminho ao mar. Eu não possuia preocupações, e podia sentir a brisa que me renovava os pulmões, após respirar por tantos anos o ar degradado do centro urbano. Era também um dos únicos momentos de harmonia plena entre a nossa família; era um momento onde esquecia-se todo o rancor, toda a mágoa, e ficava apenas a felicidade do momento.

Preciso dos ventos de outono. Eles me faziam muito feliz. E é com eles que as folhas podres caem, e dali, surgem novas e esbeltas plantas. Queria ser purificado desta forma. Assim, saberia que as folhas que ficaram presas aos meus ínfimos galhos são as folhas que me fazem bem, e que nunca irão me abandonar.

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